Luto antecipatório: um dos desafios na demência
Quando construímos e vivemos uma vida com alguém, seja esposo ou esposa, ou pai ou mãe, ou mesmo um amigo ou amiga, tendemos a não pensar no momento em que vamos perder a pessoa que nos é querida. E por perder, pressupomos a morte. Ainda mais dificilmente nos passa pela cabeça a ideia de perder a pessoa ainda em vida, quando entre nós, por vezes com sonhos e planos por cumprir. Esta última perda pode estar associada a um diagnóstico de Demência, nas suas diferentes tipologias.
Com isto, é importante distinguir dois conceitos-chave: o luto e o luto antecipatório. Por um lado, o luto é uma reação psicológica complexa, que ocorre como resposta a uma perda significativa e onde podem surgir sintomas como saudade, tristeza, raiva, culpa, arrependimento, ansiedade, solidão, fadiga, choque, dormência, sintomas físicos, entre outros. Estes sintomas podem, porém, surgir antes da morte da pessoa próxima, o que se denomina como luto antecipatório.
Um diagnóstico de Demência pressupõe, na pessoa diagnosticada, o aparecimento gradual de sintomas de declínio cognitivo (como a perda de memória, de atenção, de concentração, dificuldades de comunicação), perda de funcionalidade e, consequentemente, de autonomia, comportamentos desajustados, e até mudanças de personalidade, que fazem com que familiares e amigos possam até verbalizar que a pessoa com quem viveram/que conheceram a vida toda não existe mais.
O luto antecipatório pode ser particularmente relevante na Demência, na adaptação a estas mudanças verificadas, comparativamente com o período pré-mórbido. Sabe-se que este processo é agravado quando há historial de depressão ou sobrecarga no cuidador, ou quando o cuidador principal se trata do marido/esposa, o que pode inclusive agravar o luto pós-morte.
Apoiar os cuidadores neste processo torna-se, assim, fundamental, dado que quando o luto antecipatório é processado de modo aberto e adaptativo, tudo o que envolve o cuidar de uma pessoa com Demência torna-se menos penoso, assim como o luto pós-morte, que pode ser menos intenso e causador de stress para os cuidadores.
Na SEmente, o envolvimento com a família e/ou cuidadores é uma prioridade e por isso a nossa equipa multidisciplinar disponibiliza apoio individual ou a possibilidade de participar em grupos de entreajuda.
Para qualquer questão, contacte-nos.
Fontes: